Cerca de 300 milhões de pessoas, distribuídas por todo o
mundo, falam português, e há cerca de 4.500 urologistas (dos
quais mais de 4.000 brasileiros e 350 portugueses) nesse
grande espaço pluricontinental que é a CPLP (Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa), que integra Portugal, Brasil,
PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa,
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe),
Timor e comunidades portuguesas na Ásia, Goa e Macau.
Num
breve historial das relações lusófonas na urologia, que
servirá para as fixar e para as desenvolver, é de lembrar
que, em 1923, foi fundada a Associação Portuguesa de
Urologia, APU, sendo seu primeiro presidente Artur Ravara.
Em 1925 realizou-se o 1º Congresso Hispano-Português de
Urologia, o primeiro Congresso da Associação Portuguesa de
Urologia. Em 1926 é fundada a Sociedade Brasileira de
Urologia, SBU, sendo o seu primeiro presidente Estelita
Lins. Em 1935 é realizado o 1º Congresso Brasileiro de
Urologia e o 1º Congresso Americano de Urologia, e é fundada
a Confederación Americana de Urologia, CAU, sendo seu
primeiro presidente Álvaro Cumplido Sant´Ana. Nele
participou o urologista português Conceição e Silva,
representando a APU, sob a presidência de Henrique Bastos.
Em 1936, eram sócios brasileiros correspondentes da APU Ugo
Pinheiro Guimarães e Álvaro Cumplido Sant’Ana.
Em 1941, Reynaldo dos Santos, Presidente da APU, é feito
Sócio Honorário da SBU e grande oficial da Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul. Sob a égide de Reynaldo dos Santos e Álvaro
Sant’Ana, Presidente da SBU, as relações da APU com a SBU
foram reforçadas, sobretudo depois da Segunda Guerra
Mundial, nos anos de 1947 e seguintes, até finais dos anos
50.
Em 1971 e 1973, Pinto de Carvalho, Secretário e depois
Presidente da APU, foi relator nos Congressos SBU do Rio de
Janeiro e São Paulo, e em 1976 editou no Brasil o seu livro
“Noções de Urologia”, edição portuguesa de 1974. Em 1978,
Pinto de Carvalho, Presidente da APU, convida Rocha Brito,
famoso urologista brasileiro, a participar no Congresso
Português de Urologia.
No início dos anos 80 as relações Portugal e Brasil sofreram
um declínio, apenas interrompido pelas participações de
Edson Pontes em várias reuniões do Grupo Português de
Oncologia Génito-Urinário, coordenado por Calais da Silva.
Desde
finais dos anos 80 vêm a Portugal, aos Congressos e
Simpósios da APU (em 1990 realizou-se mesmo um Simpósio
Luso-Hispano-Brasileiro), sucessivos presidentes da SBU,
Ronaldo Damião, Salvador Vilar, Eric Wrocklawsky, Walter
Koff, Sidney Glina, José Carlos Almeida, e urologistas
brasileiros de renome como Sami Arap, Edson Pontes, Miguel
Srougi, Rodrigues Neto, Geraldo Campo Freire, Fernando Vaz,
Beatriz Cabral, Francisco Sampaio, Marco Arap, Francisco
Dénes, Paulo Palma, Mirandolino Mariano,
Anuar Mitre, Mário Ronalsa. Para além destas participações
nos eventos da APU, estes e outros urologistas brasileiros
têm participado noutras reuniões urológicas portuguesas. Nos
anos 80 Sérgio Aguinaga é membro da Ordem dos Médicos e da
Academia Portuguesa. Em 2000, por iniciativa de Adriano
Pimenta, Sami Arap é feito Sócio Honorário da APU e em 2003,
comemorando-se os 80 anos da APU, Mendes Silva entrega a
Eric Wroclawsky, Presidente da SBU, a medalha de prata da
APU. Em 2005, Mendes Silva oferece a Walter Koff ,
Presidente da SBU, o cistoscópio de prata da APU.
Em relação à participação de portugueses nos Congressos
Brasileiros a partir dos anos 90, foram convidados para os
Congressos e Simpósios da SBU os presidentes da APU Joshua
Ruah, Adriano Pimenta, Mendes Silva, Francisco Rolo.
Participaram também em eventos da SBU Calais da Silva,
Rodrigo de Carvalho, Francisco Pina, Arnaldo de Figueiredo,
Linhares Furtado, Reis Santos, Mendes Leal, Francisco Cruz,
Paulo Vale, Rui Santos, Vaz Santos, Estevão de Lima,
Lafuente
de
Carvalho, Pedro Nunes, Monteiro Pereira. Desde 1999 foram
organizadas Reuniões Conjuntas ou Simpósios SBU-APU nos
Congressos SBU, e em 2000, o Simpósio Luso-Brasileiro de
Urologia, do Achamento. Nesse Simpósio é oferecida a Adriano
Pimenta, Presidente da APU, por Salvador Vilar, Presidente
da SBU, a medalha de ouro do Real Hospital Português do
Recife. Pela primeira vez é montado um stand da APU em
eventos brasileiros para melhor difusão da urologia
portuguesa no Brasil, com a participação de Rogéria Sinigali,
Secretária da APU. No Congresso SBU de 2005, em Brasília,
Manuel Mendes Silva é feito Sócio Honorário da SBU.
Nas décadas de
1990 e 2000 outras Reuniões, Jornadas, Simpósios e
Congressos Luso-Brasileiros foram realizados, no âmbito da
Medicina Militar e também outras reuniões multidisciplinares
com a participação da Urologia no âmbito da Associação
Portuguesa de Cooperação Lusófona e Iberoamericana. Também,
graças ao esforço das últimas Direcções da APU e da
Indústria Farmacêutica Portuguesa, muitos urologistas
portugueses se inscreveram e enviaram comunicações livres
para os últimos Congressos da SBU e participaram em cursos
ou estágios específicos em serviços brasileiros de
referência. Aos Congressos Brasileiros têm ido também
urologistas dos PALOP.
Urologistas brasileiros publicaram na Acta Urológica
Portuguesa e no BIAPU, e urologistas portugueses publicaram
no Jornal Brasileiro de Urologia, havendo publicações
brasileiras e da SBU distribuídas em Portugal (nomeadamente
os Consensos de Patologias Urológicas e o Guia de
Uropatologia) e publicações portuguesas distribuídas no
Brasil, nos Serviços com Residência (entre outros o Caderno
do Internato
Complementar de Urologia da Ordem dos Médicos e Livros de
Oncologia Urológica). Cinco Serviços de Urologia, em
Hospitais e Universidades Brasileiras (de São Paulo, Rio de
Janeiro, Recife e Porto Alegre) oferecem bolsas e estágios a
urologistas portugueses e três Serviços Portugueses (em
Lisboa, Coimbra e Porto) oferecem bolsas e estágios a
brasileiros e ibero-americanos, no âmbito da SBU e da CAU.
No que respeita às relações da urologia portuguesa com os
novos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP),
Guiné, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique,
e também os sítios asiáticos onde Portugal teve forte
presença e a língua portuguesa ainda se vai mantendo, Goa,
Macau e Timor, é de referir, em 1992, o Simpósio da APU em
Macau, com passagem também por Goa. No que respeita a Goa,
Joshua Ruah e Reis Santos organizaram um Simpósio em 1994, e
Mendes Silva organizou, com Pedro Moura Reis, as 1as
Jornadas Luso-Goesas de Urologia, em 2003, que contribuiram
para um aprofundamento do relacionamento entre a urologia
goesa, sobretudo a lusófona ainda existente, e a portuguesa,
sendo de realçar o nome de Edgar Silveira.
Relativamente
aos PALOP, depois da sua independência, a urologia
portuguesa tem contribuído, desde finais dos anos 80, com
protocolos de assistência e fornecendo residências ou
estágios (por exemplo Sidónio Monteiro, de Cabo-Verde, Mingi
Sebastião, de Angola, e Igor Vaz, de Moçambique). Existem
vários urologistas agora portugueses e que trabalham em
Portugal, mas que são de origem dos PALOP. Alguns
urologistas portugueses (Serra de Matos, José Duarte,
Arnaldo Lhamas, Carvalho Melo) deslocaram-se a esses países
em missões assistenciais. Todavia, grande parte da urologia
dos PALOP foi formada em Cuba, na União Soviética e países
satélites, ou na África do Sul, pelo que há que reforçar
medidas de aprofundamento do relacionamento com Portugal e
Brasil. Assim, a criação da Associação das Ordens dos
Médicos da CPLP (Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa)
em Luanda, em 2006, sob os auspicios dos Bastonários dos
países da CPLP, e a formação da Associação Médica de
Cooperação Lusófona e Iberoamericana, em Lisboa, em 2002,
contribuíram para o aprofundamento desse diálogo e
relacionamento.
A organização de eventos científicos está também nesse
caminho, e, no campo da Urologia, Mendes Silva, enquanto
Presidente da APU, presidiu a Jornadas em Cabo-Verde, 2002,
Moçambique, 2005, e Angola, 2006, sendo secretariado por
Pedro Moura Reis, e tendo como interlocutores em Cabo-Verde
Sidónio Monteiro e Olga Borissovna, em Moçambique Igor Vaz,
e em Angola Manuel Videira e Nilo Borja. Em Outubro de 2007,
no XXXI Congresso Brasileiro de Urologia, realizou-se em
Salvador da Bahia, organizado e coordenado por Mendes Silva
e Sidney Glina, o 1º Simpósio Lusófono de Urologia, com os
tópicos “urologia tropical” e “panorama da urologia em
mundos diversos”, com a participação do Brasil (Sidney Glina
e José Carlos Almeida), Portugal (Manuel Mendes Silva e
Francisco Rolo), Angola (Nilo Borja), Moçambique (Igor Vaz),
e Goa (Edgar Silveira). Em 2008, a convite do Bastonário da
Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Luís Leite, Mendes Silva
organizou e coordenou o 1º Curso de Urologia para médicos
cabo-verdeanos. Em 2009, a convite do Bastonário da Ordem
dos Médicos de Angola, Carlos Pinto de Sousa, Mendes Silva
representou a Urologia Portuguesa.
Em Junho de 2009, em Turcifal, no Congresso da Associação
Portuguesa de Urologia, efectuou-se o 2º Simpósio Lusófono
de Urologia, organizado e moderado por Mendes Silva, com o
tópico “rumo a uma confederação lusófona de urologia”. Nele
participaram Francisco Rolo e Vaz Santos (Portugal), Mário
Ronalsa Brandão (Brasil), Sidónio Monteiro (Cabo Verde),
Manuel Videira (Angola), e Igor Vaz (Moçambique).
Seguramente, para além da língua portuguesa, esta história
comum, embora com altos e baixos, estabeleceu contactos,
aprofundou
laços,
sugeriu ideias, estreitou ligações, e abriu portas para
maior colaboração, dando assim origem à ideia da Associação
Lusófona de Urologia, que reforçará esses objectivos, pois,
todos temos a dar e a receber, e, na sua diversidade, a
riqueza de uns pode ser a pobreza de outros e a pobreza de
uns será a riqueza de outros. Temos que nos unir e é forçoso
que a comunidade lusófona se estabeleça fortemente na
comunidade internacional, pois também por aí passará o nosso
futuro.
MANUEL MENDES SILVA
Presidente da Associação Lusófona de Urologia (ALU)
Ex-Presidente da Associação Portuguesa de Urologia e do
Colégio de Urologia da Ordem dos Médicos de Portugal
Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Urologia
|